Quando eu era pequena...
Desde pequena tive várias ambições a respeito do que eu seria quando crescesse. Coisas tão diferentes, coisas inexistentes, coisas impossíveis. Acho que minha primeira idéia foi de querer ser turista. Claro que minha querida mãe me explicou que eu teria de ser rica para ser turista em tempo integral, então eu fui obrigada a mudar de planos. Então eu decidi que queria ser uma Power Ranger. Treinava todos os dias socando meu travesseiro e travando lutas mortais com as cobertas. Eu era ótima! Estava cheia de mim, pronta para substituir a Kimberly quando minha mãe teve a dura tarefa de me explicar que os Power Rangers não existiam no Brasil e eu teria que ir para muito, muito longe, deixando tudo para trás para ser uma. Considerei a coisa por uns minutos, afinal eu tinha treinado duro, mas não queria ter de deixar minha mãe, meus dois cachorros e meus doces para trás, então achei melhor desistir dessa idéia, passei para a próxima. Agora tinha a vontade de ser uma juíza! Adorava aquelas becas pretas e o martelinho de madeira. Seria um trabalho totalmente descolado e divertido. Mas então descobri como era a vida de uma juíza e que esta deveria saber de todas as leis e respeitar todas as regras. Bom, isso era um problema, porque eu adorava burlar a regra de comer doces antes do jantar e nunca respeitava a regra de ir cedo para a cama, logo não daria certo. Mudei completamente de idéia, então. Decidi que queria ser uma princesa. Não rainha, só princesa para ter aqueles lindos vestidos, ser conhecida e ter um príncipe encantado a minha espera em um cavalo branco. Aí percebi que todas as princesas sempre passam muito perto da morte e em geral por causa de suas madrastas más. Preferi continuar viva e ter minha mãe comigo.
Foi assim por muito tempo, mudando constantemente de idéia e jamais desanimando na busca. Sereia, advogada, médica, espadachim, professora, desenhista, arqueira, pirata, enfermeira, estilista, arquiteta, atriz, cantora, super herói, bruxa, cientista, veterinária...
Hoje finalmente me encontrei. Escolhi ser uma leitora ávida e sem preconceitos, assim leio um livro atrás do outro, mergulhando de uma vida para outra. Através dos livros posso ser um detetive, um robô ou mesmo um animal. Princesa ou escrava. Jornalista ou poeta. Vivo no mar, nas montanhas ou mundos mágicos. Vivo mil vidas diferentes. Sou tudo o que sempre sonhei e muito além disso.
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